sábado, 9 de julho de 2011

Ramon Floyd- Teu Jeito Moleque

Saudade do tempo em que eu ainda tinha o domínio sobre sua vida.
Quando você me dizia vou, e eu respondia, “não vai”, e nessa hora a palavra final era minha.
Não era maldade, era uma forma de amparo, essencial, para aplacar a minha angustia, de você correr risco.
Difícil de explicar e compreender os motivos de tamanhas preocupações? É saber que mãe não tem limite de doação, pode parecer chata, irritante, mais só quer o seu bem.
Filhos ´são a nossa maior dádiva, maior alegria, nossa razão de viver.Nosso sentido de vida.
Medo de saber que nessa vida tudo é implacavelmente volátil.
Temor da violência da perda, que hoje tanto se faz presente, tornou-se universal, e ninguém esta imune a ela.
Uma nova fase de nossa existência inicia quando você, com seu livre arbítrio assume as suas escolhas, determina suas ações, e abraça com a auto confiança as experiências que você adquire diariamente.
É ai que determina como vai caminhar pela vida, e fazer a sua história.
Mesmo com as minhas inquietações já não tinha mais o controle do “não vai” Você cresceu, eu percebi, mas para mim ainda era tão criança, era o meu moleque.
Saudade de passar as noites em claro esperando que a porta se abrisse, e dizer Graças a Deus ele chegou esta bem.
Aguardar seu telefonema, e ouvir mãe ta tudo bem, daqui a pouco estou chegando,que.Que calma e paz isso me trazia a sua presença confortadora.
Saudade desse tempo, de seus beijos, abraços, dos seus carinhos, dos seus sorrisos, do seu olhar.
Das risadas que dávamos, das fofocas que contávamos, de ouvir seus projetos e seus sonhos.
Saudade da bagunça de seu quarto que varria e arrumava, da zona que deixava na minha cozinha, com cascas de bananas espalhadas, dos potes de danone vazios, que deveriam ir pro lixo, mas em cima da mesa, e da pia ficavam, dos copos pratos, e talheres que sujava e dificilmente limpava.
Saudade do monte de roupa que você sujava e eu lavava
Saudade de você pedir exatamente àquela roupa que não estava passada.
Saudade de fazer aquela comida de que você gostava, e depois tanto elogiava.
Saudades de ver suas coisas jogadas, e que por isso muitas vezes brigava, mas com seu jeito.
Moleque me convencia e eu ajeitava.
Saudade da música alta, que me perturbava e você achava graça quando a porta eu fechava.
Saudades de teu jeito moleque de pedir sabendo que nunca irias ouvir não.
Saudades das nossas brigas, por coisas bobas... Outras vezes não.
Saudade de saber que mesmo você errando... Nunca me dava razão.
Saudades das vezes que você achava que me enganava.
Saudades de quando você me achava chata, mal-humorada, dizendo que te sufocava, que tirava toda a sua liberdade.
Saudade das vezes que dormia fora, mas de manhã chegava.
Saudade da Campainha da porta, que mesmo sabendo que era para você, eu atendia.
Saudade do telefone tocando e você gritando “mãe atende ai” e que também nós dois sabíamos que não era pra mim.
Saudade do seu comodismo: mãe faz lanche, traz água, traz almoço, traz janta, traz refri.
Saudade de ouvir você dizer boa noite durma bem.
Saudade de quando dizia “mãe vou sair, vou dar uma volta”.
Saudade de ouvir você dizer: “és a melhor mãe do mundo”.
Saudade de tudo isso e mais um pouco, principalmente de você.
            Saudade porque desta vez...Você não voltou!
         
Texto: Marise Couto


Nenhum comentário:

Postar um comentário